Ultimamente tenho lido obras com temas afins de forma inconsciente. A temática da vez foi masculinidades, a princípio mais diretamente através de "O homem não existe: masculinidades, desejo e ficção" da Ligia Gonçalves Diniz, livro no qual a autora faz uma análise das masculinidades construídas a partir da literatura de várias épocas, de Omero até as obras contemporâneas acrescido de um viés psicanalítico e feminista.
Achei bem maneira a proposta do livro visto que por muito tempo nós só víamos homens falando de masculinidade e feminilidade, sempre daquele jeitão bem patriarcal conservador pipipi popopo. E cada vez mais venho notando a importância dos recortes e referenciais. Por exemplo!
No segundo capítulo de "O Homem não existe" a Ligia comenta sobre o fato dos homens perceberem seu pênis como dotado de uma personalidade própria. Ela discorre por N fatores e consequências, ressalto uma. O fato dessa genitália consciente ser capaz de levar os homens a cometer atos que supostamente a cabeça de cima não concorda ou faria se estivesse no controle.
O que me remete ao livro que estou lendo atualmente chamado "E alguma vez é só sexo?" do psicanalista Darien Leader. Onde em certo trecho ele explica que essa dissociação da pessoa (e aqui não defino gênero propositalmente) começa desde a infância onde os pais utilizam termos incorretos pra se referirem às genitálias das crianças. É na infância, segundo Leader, que começa essa diferenciação do "eu pessoa" pro "eu genital".
Que viagem, né? Mas voltando ao tema masculinidades.
Ao mesmo tempo que percebo como seguir performando essa masculinidade padrão é em grande parte confortável, para os homens mais desviantes do padrão isso é uma tortura constante. Muito porquê nós (e aí já me incluo mesmo) nunca vamos conseguir performar isso na totalidade e eu gostaria de dizer que isso é inteiramente bom. O problema reside que nós fomos ensinados a vida desde sempre que aquele é o "jeito correto" de ser homem, e quando nós não conseguimos isso finda em problemas de identidade, psicológicos e por aí vai.
É duro!
Ainda assim são coisas que devemos buscar refletir sobre e, idealmente, passar a mudar as nossas atitudes conjuntamente com as dos outros homens ao nosso redor. Infelizmente a maior parte dos homens só realmente ouve certas coisas se vindas de um outro homem.
O que me lembra do livro "O feminismo é pra todo mundo" da Bell Hooks, publicado há quarenta anos, que explica direitinho como o feminismo, negro sobretudo, só traz vantagens pra todes nós. Só que o que me deixa embasbacado é que muita gente, entre homens e mulheres do nosso Brasilzão, ainda demonstra ignorância sobre o que é, de fato, o feminismo. Desde aquele discurso vazio do empoderamento até gente que acredita, em pleno 2024, que o feminismo equivale ao machismo e que as mulheres querem capar todos os machos do mundo.
Gente?
Claro que usei um exemplo bem extremo mas tu duvidas que isso existe? É muita salada pra minha cabeça. Pra tua não?
Nos últimos tempos têm rolado vários retrocessos em toda e qualquer pauta. Na semana que escrevo isso, 10 de junho, além das catástrofes climáticas que vêm acontecendo cada vez mais frequentes, tá em curso mais uma onda de ascenção da extrema direita na Europa, nossos "amigos civilizados". Bizarro, né?
Um prato cheio pra galera de centro-esquerda conservadora diminuir nossas discussões sobre pautas de gênero, sexualidade e outras temáticas de grupos marginalizados. Só que eu não sei como tanta gente acredita que não dá pra se lutar por mais de uma pauta simultaneamente. O patriarcado tá vencendo tanto que agora todos somos monotarefa como o mais medíocre dos homens, gente? Sejamos mais como Eduardo Suplicy (PT-SP), que vai em paradas LGBTQIAP+ e pauta debates relevantes, e menos como Sinésio Campos (PT-AM)!, que protagoniza cenas de machismo e defende garimpo na ALEAM
Acho que saí um pouco dos trilhos messe papo, mas talvez minha cabeça funcione assim mesmo. Fazia muito tempo que eu não escrevia, pode ser a torrente de pensamentos querendo sair todos de uma vez.
Esse ano tô lendo bastante então é possível que eu volte a publicar com mais frequência aqui.
Bora trocar ideia?
Até uma próxima. Abraços!
Gosto de ver homens falando sobre redefinições de masculinidade. Houve uma época em que eu buscava o que feminilidade era para mim, e me deparei com muitos homens também nessa procura de significado de sua essência. Ótimo texto!
Muca, sempre trazendo pautas relevantes. eu acho que tu vais gostar dos livros do Paul B. Preciado. conhece? se ainda não leu, recomendo começar com "Um apartamento em Urano" 🩷
tô ha meses para escrever sobre esse tema da masculinas, mas sempre travo. tu me inspirou!