Em janeiro, não li tanto quanto de costume, mas mantive a média que sempre almejo: seis livros no mês. Além disso, ouvi três excelentes álbuns, dois deles lançados este ano. E o abieiro nos reservou uma surpresa.
Leituras:
Kafka à Beira-Mar, de Haruki Murakami, traduzido por Leiko Gotoda.
Comentei bastante sobre esse livro na edição anterior, mas, para quem não a leu, vale destacar que é o maior romance do Murakami que já li e o que mais gostei. Me emocionou e me divertiu de várias formas. Comecei o ano muito bem!
Suplemento Pernambuco #213.
Do nada, encontrei algumas edições do Suplemento Pernambuco no BibliON e resolvi lê-las. Sempre tive curiosidade, mas nunca havia encontrado onde lê-las em formato digital (talvez por ignorância minha, ok?). Foi uma leitura interessante, na qual pude fazer algumas descobertas, como:
O artigo sobre letramento trans, em que a autora Dri Rodriguez menciona os avanços nas discussões trans na terceira onda do feminismo, coincidindo com os avanços nas discussões sobre deficiência.
Autores como Julio Ramón Ribeyro, de quem eu não fazia ideia da existência e agora simplesmente tenho todas as suas obras traduzidas para o português na minha lista de desejos.
O Fantasma de Cora, de Fernanda Castro.
Demorei mais do que imaginava para tirar esse livro da estante, visto que a Fernanda é uma das minhas autoras favoritas. E, assim como me foi prometido, recebi uma novela de época bem divertida.
Confesso que esperava mais romance e fui surpreendido pelo suspense investigativo. Gostei de como a Fernanda subverteu algumas das minhas expectativas como leitor do gênero. A princípio, isso me causou estranhamento, mas, com o tempo, fui apreciando essas quebras.
Muitas vezes, nós (no caso, eu) já temos algumas pré-concepções estabelecidas sobre como uma narrativa deve prosseguir, e senti que a Fernanda propositalmente modificou isso. Somado a uma ambientação curiosa e personagens carismáticos, O Fantasma de Cora mostrou-se um bom livro!
O Manual do Mago Frugal para Sobrevivência na Inglaterra Medieval, de Brandon Sanderson, traduzido por Pedro Ribeiro.
Sinceramente? Uma boa parte do livro foi bem chata, mas, em determinado momento da narrativa, me peguei preocupado com o fato de o livro estar acabando, enquanto minha curiosidade pelos personagens e pelo universo só aumentava.
Este não é um livro que faz parte do Cosmere (universo onde a maioria das obras do Sanderson se passa), então foi uma obra com um pouco mais de liberdade para ele brincar. O livro transmite essa energia de "ideia experimental", ao mesmo tempo que não é um tropo tão original assim. Mas aí entra a expertise do Sanderson, que transforma algo simples em algo encantador.
Gostei, mas graças a Deus li pelo BibliON e não precisei desembolsar uma grana por um livro "maneirinho". Adendo: para quem enxerga, deve ser outra experiência, devido às diversas ilustrações que o livro possui.
Nossa Parte de Noite, de Mariana Enríquez, traduzido por Elisa Menezes.
Falar brevemente sobre este livro é desafiador, pois é uma obra com inúmeras interpretações e detalhes. Ainda mais sendo um romance de terror ambientado na Argentina durante os anos da ditadura militar, com as protagonistas sendo principalmente uma criança de seis anos e seu pai, cardíaco e viúvo.
Nossa Parte de Noite é um livro grande e denso, perturbador e instigante, características que se encaixam bem com os terrores "enfrentados" pelas protagonistas. Sobretudo se pararmos para pensar que boa parte da narrativa se passa enquanto pelo menos uma das protagonistas é criança.
Apesar de toda a crueldade envolvida, esta é uma obra sobre o amor. Só que tem um porém: acho que, no fim das contas, o ódio se sobressai um pouquinho, mas isso é detalhe. Vamos focar no amor? Eu sou medroso, gente, essa é a hora em que admito que fiquei com medo de ficar até tarde da noite no meu quintal, temendo a escuridão.
Apenas leiam!
Os Caçadores de Trolls, de Guillermo del Toro e Daniel Kraus, traduzido por Edmundo Barreiros.
Enganei-me ao achar que este era um livro infantil mais aventureiro. Na verdade, é um terror. Infantil? Sim, mas é terror, e eu tive a ideia de lê-lo logo depois de Nossa Parte de Noite, meu Deus do céu!
Não é um dos melhores livros já escritos, mas com certeza é um dos livros já escritos. Para uma criança de dez anos, deve funcionar bem. Mesmo achando o livro "qualquer coisa", ainda me emocionei no final.
Álbuns:
Oproprio, de Yago Oproprio (2024).
Tive o prazer de assisti-lo cantar no Festival Psica, em Belém, no ano passado. Não o conhecia e achei a apresentação dele muito boa. Foi mais ou menos um mês depois que parei para ouvi-lo. Gostei do estilo do Yago, mesclando uma pegada caribenha nos samples com uma brasilidade carregada de crítica social. Muito bom ver artistas assim surgindo recentemente. Para quem quiser conhecê-lo melhor, tem esta entrevista ao Cultura Livre.
A faixa mais potente do álbum é Jejum!
O Mundo Dá Voltas, do BaianaSystem (2025).
Minha banda favorita atual, que também pude assistir no Psica, lançou um álbum em janeiro. E que álbum, bicho! Tá uma delícia ouvir O Mundo Dá Voltas do começo ao fim; não pulo nenhuma faixa. Repleto de participações, como Emicida, Pitty, Anitta, Gilberto Gil, Melly e muita gente incrível.
BaianaSystem já furou a bolha demais; não dá para dizer que é uma banda alternativa. A faixa que mais ouvi foi A Lage!
Diamantes, Lágrimas e Rostos Para Esquecer, do BK (2025).
O BK resolveu quebrar tudo com esse álbum, que tem única e tão somente pedradas do mais alto calibre. Janeiro começou com tudo nos lançamentos! Eu pego um álbum novo e dou play direto, sem ver o nome das faixas ou quem está participando, e isso me deixou muito surpreso positivamente com cada uma das participações e os samples do disco.
Eu não curtia tanto o som do BK, só uma ou outra música, mas, de uns anos para cá, tenho gostado cada vez mais, e esse álbum tá incrível. Difícil até escolher uma faixa favorita.
Nesse momento, Abaixo das Nuvens, com a voz da Luedji, foi a faixa que mais me pegou.
O abieiro:
Aqui no quintal, além do abieiro, também há uma mangueira, e ambos são casa de alguns passarinhos. No início de janeiro, um filhote de sabiá caiu do ninho, e tentamos cuidar dele até que pudesse voltar ao ninho. A mamãe o batizou de Chiquinho.
Durante o dia, deixávamos o Chiquinho dentro de um vaso abaixo do abieiro para que a mãe dele pudesse alimentá-lo, e, à noite, o colocávamos numa caixa de sapato na cozinha. Até aí, tudo bem, só que o Chiquinho gosta de aventuras.
Um belo dia, eu estava estudando no meu cantinho de sempre e ouvi um alvoroço. A Ciri tentando pegar o Chiquinho, e ele berrando pela sua vida. Depois de uma certa correria, separamos os dois indivíduos e, incrivelmente, o Chiquinho saiu ileso, exceto pelo susto.
Isso ainda aconteceu uma segunda vez, quando o pequeno sabiá escapou de novo, não sei como. Por algum motivo, a Ciri encarnou com ele, mesmo havendo outros tantos passarinhos o tempo todo no quintal.
Eu disse à minha mãe: "Da terceira, ele não escapa".
Até que os dias foram passando sem novas ocorrências, quando percebemos que o Chiquinho havia sumido. Procuramos por todo o quintal e nada dele. Onde ele estava? Lá em cima, no abieiro! Nosso garotinho sobreviveu e já estava todo serelepe, pulando de galho em galho, tirando onda com seus saltinhos.
Pela primeira vez, cuidamos de um passarinho que caiu do ninho, e ele sobreviveu. Acho que o ano começou bem nesta casa.
Não consumi muitas coisas este mês, devido à adaptação à nova rotina de treinos, trabalho e estudos. Voltei a treinar jiu-jitsu e corrida. Mas uma coisa legal é a motivação para escrever por aqui. Então, apesar do cansaço, está tudo caminhando bem.
Obrigado a quem leu até aqui. Forte abraço e até a próxima!